Entre máscaras e
cabides, como viver escondido entre ser herói e vilão?
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Foto: Hora de levar as cores à mesa Gui Zambonini |
O filósofo inglês Francis Bacon disse uma vez que “todas as cores concordam no escuro”. Em tempos de intolerância e de iniquidade, qualquer sombra torna-se mais acolhedora que um pequeno fecho de luz. Mas a custo da felicidade de quem? Dos olhares de repreensão de quem enxerga aquém, ou dos que se inibem por receio de se tornarem uma decepção na paleta de cores moldada pelo próximo?
O aconchego do armário vai muito
mais além do que os cobertores dobrados para amaciar o medo e transformá-lo em
ternura. É como se cada peça de roupa pendurada em um cabide, fosse uma verdade
vedada e protegida por um material impermeável de ações e reações. Ledo engano.
Nem mesmo a textura mais macia pode resistir às sujidades porta à fora da madeira,
da vida ou de quimeras o coração.
Redescobri, recentemente, quem
foi meu primeiro crush na infância: Tuxedo
Mask. Enquanto inocente, assistia à Sailor Moon, na extinta TV Manchete, com a
mesma intensidade de que em algum momento, eu encontraria um gato-falante pela
rua, o qual me revelaria ser um guerreiro da lua. Não encontrei. Não me
transformei. Tampouco travei uma luta entre o bem e o mal. Mas conheci Tuxedo
Mask.
Crianças não demandam a plena
consciência do que é a paixão entre duas pessoas – e muito menos do que é o
amor visto e televisionado. Ao meu olhar, quando via Tuxedo e Sailor Moon – Darien
e Serena --, eram apenas dois estranhos motivados por um propósito que os
faziam ser importantes um ao outro [duvido que com esses termos, mas era este o
significado].
O herói mascarado e munido de
rosas, despertava-me a vontade de ser salvo – mesmo sem haver um perigo ou
entender o porquê daquilo. Afinal, ele era um rapaz. E eu também. Isso era
errado, certo? Não cresci em uma redoma de preconceitos, mas ao meu redor,
tinha apenas como exemplo o convívio de casais compostos por homens e mulheres.
Então, como o desenho havia horário para começar e terminar; meus pensamentos
sobre ser salvo por Tuxedo também eram datados de tempo.
Esqueci-me da capa preta e das
rosas, porém vivi escondido por uma máscara. Fui meu próprio herói e vilão; fui
e continuo o único responsável pelas roupas que as tiro do armário, assim como
o reflexo do que projeto ao espelho. Fui ‘Bela’; fui ‘Fera’. Fui a expectativa
de uns; a certeza de outros; as incertezas de mim; as consequências de como
nasci.
O armário não aquece, pelo
contrário, esfria a alma. Gavetas não são seguras – bastam dedos para abri-las
e escancarar seus maiores pertences. Meias de lã não podem protegê-lo do frio
do piso invisível. Cabides penduram e perduram sonhos esquecidos. Prateleiras
acumulam histórias em caixas, cujas tampas o distanciam ainda mais de um
presente sorrateiro. Portas são convencionais até alguém abri-las junto a você,
colocar a mão sobre a sua e mostrar que não está sozinho no escuro. Há cor onde
você deseja colorir.
Não há aqui uma discussão sobre
sexualidade, mas sim, uma conversa sobre acertos e incertos sobre o coração.
Sentimento não é um arquivo para decidir se irá imprimi-lo em preto e branco ou
colorido, mas um apanhado de pixels prontos a saírem de um disquete e ganharem
um tom de azul vivo, que ofusque o branco das nuvens. Já as sombras não passam
de pessoas com olhares divagados sem a compreensão do arco-íris de
oportunidades cuja acepção acopla a vida.
O armário é preciso para
conhecer-se – e dispensável quando a autoafirmação do que está dentro de você ecoa
mais forte que mil orquestras juntas. A dicotomia da dúvida não desaparece em
uma piscadela, porém criam-se certezas as quais sobressaem-se às inquietudes,
principalmente, quando surgem razões àquilo que desconhecemos. Pode não ser
amor; pode não ser alguém; pode não ser Tuxedo Mask – mas será você sem a
máscara vendo a verdade tornar-se poder.
Acredite: as cores se encontram
fora do armário.
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