quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um homem de (pouca) sorte


Sucesso na literatura, adaptação peca em mudanças e fica longe da verdade, do destino e até mesmo da romântica Carolina do Norte


Quantos minutos são necessários para que uma passagem literária esteja fielmente presente em uma tela de cinema? Este cálculo ainda não foi criado e, por enquanto, não existe nenhuma pesquisa em torno disso. A princípio, fica ao olhar clínico do diretor e do roteirista, que precisam sentir a obra e retratar não apenas o que se lê, mas também como ela pode ser enxergada. Essa arte possui várias direções, contudo, se agradará fãs ou será um sucesso de bilheteria, já é outra história.

A princípio, o livro “Um Homem de Sorte” parece ser uma junção de várias outros títulos de Nicholas Sparks. Como o uso de um protagonista masculino de poucas palavras, mas de muitos segredos; assim como a mulher por quem ele é apaixonado, a qual lida com feridas ainda abertas de um romance em tom de pesadelo. Mesmo longe de ser um Shakespeare Apaixonado, Sparks narra o que o ser humano tem de mais belo: o amor.

Já não é mais segredo que tudo o que o autor escreve, vira filme. Normalmente, adaptações nem tão prazerosas quanto aos seus verdadeiros pais, os livros. Entretanto, rendem bons resultados nas bilheterias, mas também o vazio de um trabalho nem tão bem produzido. E com “Um Homem de Sorte”, não foi diferente.

Logan Thibault, ex-fuzileiro naval de 28 anos, que caminhou de Colorado até Hampton, na Carolina do Norte, acompanhado de Zeus, seu cão e fiel companheiro. Zac Efron, 24 anos e mais perdido do que um ponto de interrogação sem resposta. Desde o seu primeiro sucesso juvenil - “High School Musical” -, Efron trabalha e exerce bem a arte de atuar. Ele deixa transpor a fúria por querer se desvincular da imagem de mais um “rostinho bonito” de Hollywood, desafiando-se. Porém, neste filme, não é bem isso que acontece...

Por mais que os olhares de Zac Efron conseguissem oscilar entre os sentimentos de medo e paixão, na maior parte do tempo ele se afundava em expressões baseadas na massa muscular adquirida para viver o personagem. No caso, a corpórea compõe um excesso de vazio, postura tímida, irregular, fraca, receosa e mais calada do que o próprio Thibault (não em questões de falas, mas na imposição expressiva que não se desenvolve). Parece que o ator está em uma luta interna para descobrir “quem é Logan Thibault?”. Bom, Zac Efron, definitivamente, não é.

Na trama, Taylor Schilling dá vida à protagonista Elizabeth Green (“Beth”), grande paixão de Logan e que vive em torno de seu filho Ben (Riley Thomas Stewart). Além disso, ela lida com dores de um passado cada vez mais presente: a morte de seu irmão e um ex-marido que não a deixa conhecer a felicidade do amor. A atriz ainda não é muito conhecida no universo cinematográfico e se depender deste papel, continuará no anonimato. As dores da personagem deram lugar a uma interpretação doce, mas tão doce, que chega a derreter como um torrão de açúcar em meio a um drama repleto de glicose.


No livro, quando Beth descobre a verdade sobre a foto (*spoiler a seguir*) - responsável por salvar a vida de Logan várias vezes e, omitido por ele, quando se conhecem -, por natureza, a cena escrita já é um pouco forçada. Agora na tela ficou pior. Os atores não conseguiram encontrar o tom certo para dar vida ou até mesmo melhorar o que já não convencia. Para completar, a cena do desfecho, marcada por uma grande tempestade e uma morte, perdeu toda a angústia e ansiedade estimulados no livro.

Apenas na última página é possível descobrir quem morre; se foi Thibault ou o vilão Keith Clayton (Jay R. Ferguson), o qual se redime no momento em que percebe que pode perder seu filho. Já no cinema, todo o clímax foi água abaixo junto à tempestade, dando lugar a uma morte heroica de Keith e sem tensão para um final que poderia surpreender o telespectador.

Sorte ou revés
Na realidade, “Um Homem de Sorte” nunca teve potencial para render um longa convincente. Quem leu, sabe que o livro possui um enredo bastante fechado, sem muitas possibilidades de ser explorado. A relação entre os personagens é o típico retrato de convivência em uma cidade do interior. Nem mesmo as belas paisagens conseguem salvar e fazer render 300 páginas em 100 minutos de cores e apelos visuais.

Talvez o erro comece pelo uso do termo “fielmente”. Nem mesmo as trilogias como “Harry Potter” e “Senhor dos Anéis” passaram sem uma mínima alteração. É preciso lembrar que o livro, nas adaptações, serve como um pré-roteiro. Algumas pessoas levam de um dia a um mês para finalizarem uma leitura. Já no cinema, retratá-lo levam-se meses, por isso a justificativa de um trabalho aquém do esperado se torna um fácil alvo de crítica

As adaptações das obras de Sparks para o cinema passam longe do alto primour da sétima arte, até porque, a ideia não é ganhar um Oscar, é dar vida a um estória que se identifica com a vida das pessoas. “UmaCarta de Amor”, “Diário de umaPaixão”, “Um Amor Para Recordar”, “Noites de Tormenta”, “Querido John” e “A Última Música” também tiveram suas mudanças, algumas necessárias e outras que só quem acompanha as histórias poderia saber.


O diretor de “Um Homem de Sorte”, Scott Kicks, bem que tentou se aprofundar na questão de destino (uma foto, duas pessoas, uma conexão e um amor puro, diferente), mas acabou passando longe. A Carolina do Norte, cenário de tantos romances, transformou-se em uma grande xícara de café: amarga de qualidade, doce de intensão. A gosto do freguês, tem que goste.


Assista abaixo o trailer do filme:






Imagens: Divulgação (Distribuidora Warner Bros)




10 comentários:

  1. pera, assim vc tá me assustando.kkkkk assisti hoje o filme, e concordo com algumas coisas q vc falou: a cena forçada qdo Beth descobre a verdade sobre a foto e Logan; q o diretor do filme acabou errando um pouco em torno dessa questão do destino, apesar de ele ter tentado; e a morte de Keith q acabou se tornando "herói". Mesmo assim, eu não tava a fim de ler esse livro, mas o filme conseguiu me incentivar a procurar ler. Comecei a leitura, apesar de ter achado um pouco chato esse começo. Bom, vou terminar de ler e seguinte seus comentários acho q vale a pena né? Parece q o livro é bem melhor q o filme.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu também me assustei quando fui ao cinema. Concordo que não precisa ser fiel, mas quando muda a essência e o clímax da estória, acaba com a nossa expectativa, né? O livro, em algumas partes, parece uma junção de outros títulos do Sparks, porém a reta final é tão eletrizante, que faz você entender a questão de sorte/destino. Até a metade, caminha entre o maçante e o 'por favor, Logan, casa logo com a Beth', hahaha. Já nos últimos capítulos, o baque. Assim que terminar de ler, você me conta o que achou :).

      Excluir
    2. então, vale a pena continuar a minha leitura..rsrsrs
      entendo o q vc quer dizer. Eu li aquele livro "para sempre", e é uma história interessante e basicamente sobre a fé. Mas qdo vi o filme, me desapontei. Mudou muito o enredo, até para tornar a história mais interessante e prender as pessoas. Só que a base mudou completamente: em vez de ser uma história sobre a fé, passou a ser uma história sobre o amor.

      Excluir
    3. Isso, continue! Não é melhor livro dele, mas vale a pena pelo enredo final.

      Não sabia que "Para Sempre" era baseado em um livro, vou atrás para ler (valeu pela dica). Agora quanto ao filme, o diretor não precisa agradar os fãs, mas também não tem a necessidade de mudar toda uma estória. Me estressa quando essas coisas acontecem. É um desrespeito tão grande!!!

      Excluir
    4. É baseado num livro e numa história real, o q para mim é extremamente encantador.
      Eu acredito que quando se transforma um livro em um filme, é necessário transformações. Mas no caso de "Para sempre" eu me decepcionei bastante. O básico permanece: eles se casam, ela perde a memória e ele reconquista ela. Fora isso, as questões familiares são completamente diferentes, no filme não fala sobre a fé dele, nem as profissões deles são as mesmas q a do livro. Tá...tiveram algumas mudanças q tornaram a história mais agitada, mais interessante, mas o livro me comoveu muito mais.

      Excluir
  2. Lembrei qual é o filme, rs. A escolha do elenco e da trilha sonora foram ótimos, mas isso que você diz tem sentido. Assim que ela perde a memória, ele precisa ter fé de que ela irá recuperá-la, senão, de que vale o amor, sem a fé de acreditar no próximo e no que ele é capaz de fazer. Verdade, pecaram feio nisso! Por mais que a ideia talvez fosse de deixar isso implícito, não é a mesma coisa para quem não leu o livro.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. é...isso foi bem triste para mim. Inclusive o próprio autor do livro comenta sobre o filme, q houve mudanças, mas q isso é normal. E tbm comenta que a história deles é, acima de tudo, sobre fé. O autor conta sobre como foi importante a família, Deus e a ajuda dos amigos para ele e a esposa superarem tudo isso. Enfim, acho q estou falando demais sobre o livro.rsrs Se ñ leu, leia. Vc vai perceber q são perspectivas um pouco diferentes.

      Excluir
    2. O autor deve ir da felicidade ao abismo. Primeiro por ter o seu trabalho reconhecido e por torná-lo ainda mais prazeroso, com milhares de pessoas de identificando, mas aí vem a senhora "adaptação"... bom, o final você já imagina, rs. Pode deixar que quando eu ler, te aviso.

      Excluir